Jeannine Garsee usa e abusa do clichê em Atormentada (The Unquiet). O livro tem uma premissa previsível, um final previsível e uma protagonista previsível. Mas, por incrível que pareça, Jeannine conseguiu fazer tudo isso se encaixar perfeitamente. 

Nome: Atormentada (The Unquiet)
Autora: Jeannine Garsee
Série: Livro único.
Páginas: 368
Tradutor(a): Denise de C. Rocha Delela
Editora: Jangada
Ano: 2013 (BR), 2012 (EUA)
ISBN: 9788564850392

Sinopse: Rinn é uma garota bipolar, que mantém o transtorno sob controle com a ajuda de medicação. Ela mora com a mãe e estuda no Colégio River Hills, onde dizem que a piscina é assombrada por Annaliese, uma adolescente que se afogou ali vinte anos antes. Quando coisas terríveis começam a acontecer aos seus colegas e não a ela, Rinn promete descobrir por que não pode ser “atingida” pelo espírito de Annaliese. Ela consegue fazer contato com o fantasma, que não se mostra nada pacífico. Ao descobrir o motivo, Rinn pede ajuda para seu namorado Nate, e elabora um perigoso plano para descobrir a verdade. Logo realidade e fantasia se confundem, até Rinn perceber que é quase impossível diferenciá-las. Diante de uma força malévola que ameaça a vida de todos de quem ela gosta, Rinn se pergunta se de fato pode confiar no que sente ou se está novamente perdendo o contato com a realidade.



  Corinne Jacobs, ou apenas Rinn, é uma garota que vive atormentada por suas próprias emoções. Sofrendo de distúrbios psicológicos como Bipolaridade e Depressão, sua sanidade vai para o ralo quando Nana, sua avó, morre. Culpando a si mesma, Rinn se coloca em uma espécie de limbo; não fala ou interage com ninguém. Não que isso importe para as pessoas ao seu redor; todos a culpam pela morte de Nana, por omitir socorro enquanto a idosa fica presa em sua casa em chamas. Então, em uma tentativa frustrada de acabar com tudo, a garota tenta suicídio. Mas, o que ela pensava ser a solução de tudo, se transforma no começo de um pesadelo maior ainda. 




"Ela está certa, a culpa é minha, embora ela nunca vá dizer isso na minha cara. Está com medo de que eu vá cortar a garganta novamente e sujar todo o banheiro dela de sangue." Página 11.





  Em busca de sossego e dar tempo para Frank (filho de Nana e padastro de Rinn) superar a mágoa com a menina, Mônica, mãe de Rinn, decide voltar para sua cidade natal; River Hills. Lá, reencontra vários antigos amigos do colégio, e logo a mulher acha seu lugar na pequena cidade. 
  Porem, as coisas para Rinn não vão tão bem assim. Logo em seu primeiro dia de aula, a garota se depara com a lenda da Annaliese; uma garota que, vinte anos atrás, foi encontrada morta na piscina do colégio. Apesar dos rumores de assassinato, a policia encerra o caso como suicídio e o diretos da escola é pressionado até interditar a piscina. Sua entrada fica em um corredor antigo, uma porta no corredor mais antigo da escola. Totalmente divergente da estrutura moderna do resto da escola, viaja entre os alunos rumores de que o espirito da menina morta ainda assombra o lugar. A partir dessa descoberta, mais e mais coisas sobrenaturais começam a acontecer na vida da garota, deixando-a em dúvida se são reais ou frutos de sua mente defeituosa. 



"Uma constatação repentina me ocorre: uma casa assustadora, um cadáver no sótão, um fantasma, um vizinho sexy e agora uma amiga grávida! Eu não estava presa em uma cidadezinha minúscula de Ohio, estava presa numa das novelas mexicanas que Nana costumava assistir..." Página 63.




  Mas, entre investigações, duvidas e suspeitas, a garota consegue tempo para se relacionar com Nate; seu vizinho, também filho de um antigo amigo de sua mãe. Desde o inicio, o relacionamento dos dois é agridoce, nunca muito meloso ou melodramático. Apesar de não acreditar em muitas das coisas confessadas por Rinn ao longo de suas experiencias, o garoto a respeita e se preocupa com ela. Em certo ponto do livro, ele se vê tão envolvido com os acontecimentos que fica impossível não temer as coisas das quais a garota o alertara. 
   Outros personagens também fazem parte das descobertas sobre Annaliese, mas a autora não foca em nenhum deles. Chega um momento em que até Nate, que era para ser um dos protagonistas, fica de lado. Esses personagens foram criados para dar sentido a certas atitudes de Rinn e nada mais, sendo jogados no lixo após servirem ao seu proposito. Um exemplo é Cecilia; no começo, a autora deixou a garota com uma impressão misteriosa, presunçosa. Mas, no final, a sua participação acabou sendo totalmente dispensável. Sequer soubemos o futuro dela e de outros personagens secundários. Por mais que a intenção tenha sido aumentar a carga emocional de Rinn, manter personagens relevantes era necessário para uma impressão positiva sobre a estória ao todo.



 "Ela muda as pessoas. Fez com que Meg, uma garota doce e feliz, se tornasse alguém capaz de cometer um assassinato. Ela mudou minha mãe, transformou em alguém que eu mal reconheço." Página 289.






  Mas, se em alguns aspectos a autora errou, em outros ela acertou maravilhosamente. Os transtornos psicológicos da protagonista, que no começo eu achei superficiais e clichês, foram se desenvolvendo bem no decorrer do livro. A partir da página 300, quando Rinn começa a desconfiar de sua própria mãe, as cenas que a autora cria são tão bem feitas que nem o leitor sabe definir se são reais ou da imaginação da garota. Durante a leitura me lembrei de "A Desconstrução de Mara Dyer", único outro livro que me deixou com tantas duvidas que eu acabava tendo a certeza de que iria ser feito de trouxa no final, mesmo com uma coisa totalmente previsível á frente. As cenas de tensão também são ótimas, te deixam com o coração suspenso. Um truque que a autora usou também foi o toque de mestre: deixar o mal por conta da imaginação do leitor. Porque, o que melhor para nos assustar do que aquilo que nosso subconsciente cria, feito de coisas das quais mais tememos? Josh Malerman também usou o truque em seu livro, "Caixa de Pássaros", tendo o mesmo resultado (pelo menos comigo). 
  Não vou mentir, em alguns momentos eu fiquei realmente apreensivo. Isso já é mais do que eu esperava em um Young Adult, já que geralmente os autores do gênero tem mania de romantizar o mal. E, quando finalmente visualizamos Annaliese, não nos decepcionamos. A criatura continua má até as ultimas páginas, acreditam? 



"Annaliese! É como se ela roubasse tudo o que temos de bom, tudo o que amamos. Ou, se tem alguma coisa que não devemos fazer, que estamos tentando não fazer, ela assume o controle e impõe a vontade dela. Ela faz a gente ceder. Ela suga a nossa alma até que não reste mais nada!" - Página 295.





 A edição da Jangada ficou ótima, a capa seguindo o mesmo modelo da original. O espaçamento das linhas é confortável, e o papel impresso é de qualidade. Não notei quaisquer erros ortográficos, nem mesmo de gramática. É o primeiro (de muitos, devo dizer) livro que adquiro da editora, e já tenho outros em mente. 







RESUMINDO: Gostei MUITO desse livro. Apesar de ser bem juvenil, a autora acertou em vários pontos, deixando uma obra única mesmo com uma premissa tão simples. Aliás, a autora nos confidencia que baseou-se em uma antiga lenda da escola em que estudava. Ela conseguiu construir algo assustador e inimaginável em cima disso, usando como palco lugares reais de sua imaginação.
  Se você não suporta livros juvenis, cai fora! Pois esse tem aqueles pontos clichês que todo YA tem. Mas, se a premissa te interessou, mergulhe fundo! Comecei sem expectativa e o livro acabou se tornando um dos meus favoritos do ano. Só não dou 5 estrelas pelos defeitos com os personagens, mas isso não me impede de recomendar "Atormentada" para todos os leitores no qual mantenho relacionamento.

Minha nota final é 4,2.






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