Um garoto problemático, uma garota traumatizada e um relacionamento estranhamente intenso. Clichê, né? Foi exatamente isso que pensei quando li a sinopse de Por Lugares Incríveis. Nada me chamou a atenção de primeira, me remetendo até a outras mil obras sobre os assuntos abordados nesse livro. Mas, tão logo comecei a leitura, me surpreendi com sua profundidade e com o talento da autora. Jennifer Niven parece ter ouro nos dedos. Ficou curioso? Leia a resenha abaixo :)

Violet Markey pensa estar destruída. Após sofrer um acidente de carro e perder sua única irmã, Eleanor, a garota entra em uma crises existencial que faz o mundo ao redor de si parecer vazio. Não se anima com as coisas que costumavam coloca-la para cima, incluindo seu namorado, seu futuro e até sua própria mente. 

Mas tudo muda quando, inconsequentemente, ela sobe na torre do colégio que frequenta e se vê a um passo do suicídio. Assim que nota sua perigosa situação, á metros e metros do chão, se arrepende imediatamente e se apavora. E é aqui que Theodore Finch, a complicada pessoa que irá mudar sua vida, aparece. Ele a ajuda a voltar á terra firme sem contestar as razões pelas quais a garota havia pensado em tal ato - mesmo que isso o coloque em situações sociais nada agradáveis, só intensificando o bullying que ele já sofre por ser "anormal". Juntos, os dois mergulham em um relacionamento que irá mostra-los todos os lugares incríveis (ou não) dentro de si mesmos. 

Por mais que o livro seja narrado pelos dois protagonistas - Finch e Violet -, não consigo pensar em um jeito de começar essa resenha analisando a personalidade de Finch. Estou acostumado á personagens rasos (as vezes nem tanto), decifráveis e totalmente abertos ao leitor, coisas da qual Jennifer Niven parece ter fugido na hora de construir o garoto-bomba. Theodore Finch é um retrato perfeito da mente humana quando abandonada pela arrogância da certeza. Suas ações inicialmente podem parecer loucas, sem sentido, mas, tão logo mergulhamos mais profundamente em seus pensamentos, aprendemos a esperar tendo a certeza de que tudo, uma hora ou outra, vai fazer sentido.

Já Violet é mais previsível, mas não menos complexa. Ela nutre dentro de si uma culpa que acaba fazendo-a afastar todos de si. A mistura da introspecção com a extroversão acabou dando um equilíbrio natural ao enredo. Como os capítulos são alternados, você pode mergulhar fundo na mente do Finch e, logo em seguida, ir á superfície com o ponto de vista de Violet.

Além da parte psicológica dos protagonistas ser bastante explorada, a autora também construiu bem todos os núcleos ao redor dos dois, do familiar ao social. Isso, combinado com uma narrativa objetiva e sem enrolação, fez com que o cansaço não aparecesse em nenhum momento durante a leitura. Aliás, a narrativa em si transpôs muito bem a personalidade de quem estava narrando. Durante os capítulos de Finch, quase pude ouvir sua voz em minha cabeça.

Comentário Geral: Geralmente começo livros que falam sobre saúde mental com um pé atrás. Não são raros os casos em que autores usam esse assunto apenas para adicionar drama ao enredo, o que por vezes acaba romantizando aquilo que na verdade precisa ser discutido. Talvez por já ter vivido algo parecido, a autora soube tratar do assunto de maneira objetiva e impecável. Com todas as suas incertezas sobre rótulos e sentimentos, Por Lugares Incríveis conseguiu passar o realismo de alguém que lida diariamente contra a própria mente. Recomendo para todos!