Em um mundo ameaçado por maldições, não se pode confiar nem nas próprias lembranças. Na trilogia "Mestres da Maldição", Holly Black (mesma autora da saga 'Povo do Ar') apresenta uma trama que divide o protagonista entre o caos urbano, problemas mágicos e confusões de uma família de criminosos. Confiram a resenha abaixo!
Nessa baixa fantasia urbana escrita pela Holly Black (também autora de "O Príncipe Cruel"), encontramos um mundo parecido com o nosso, com guerras e violência, onde alguns indivíduos (chamados de mestres) possuem dons e utilizam-no tanto para o bem quanto para o mal. Esses poderes vão de controle mental à morte.
A sociedade, porém, não aceita os mestres e seus dons, o que faz com que escondam a própria identidade. Todos – mestres ou não – são obrigados a utilizar luvas em espaços públicos. Sem toque, sem maldição.
E é nesse cenário que conhecemos Cassel Sharpe. Membro de uma família de mestres que ganha a vida com golpes e trapaças, ele faz de tudo para não trilhar o caminho de seus familiares. O destino, porém, não poupa esforços para coloca-lo em situações imprevisíveis á mostrar que o fruto não cai longe do pé. Cassel logo se depara com problemas e enigmas que fogem completamente ao bom senso, tendo de utilizar estratégias tão insanas quanto para não sair perdendo, ou até mesmo morrer no processo.
Eu gostaria de dizer mais sobre o enredo, mas, a partir disso, estaria dando spoilers que estragariam a experiência de quem pretende ler. Digo que, mesmo curta, essa apresentação resume bem a base do enredo: um garoto tentando encontrar a si mesmo enquanto foge do tipo de vida de sua parentela. Os problemas apresentados na trama estão longe de serem irreais - na verdade, é como se a autora pegasse questões presentes na vida urbana e convertesse-as em versões alternativas envolvendo magia, dons, gangues e assassinatos.
Essa premissa me prendeu a ponto de manter, ano pós ano, a trilogia na estante, assim como o desejo de realizar a leitura. Quando decidi ler, em uma leitura coletiva com uma amiga, as expectativas, mesmo inconscientemente, estavam altas. São magos em um cenário urbano, não tinha como eu não gostar!
Bem, o improvável aconteceu. Embora tenha me entretido em alguns momentos, a leitura como um todo foi monótona. Não me apeguei aos personagens, não me importei com seus problemas e tampouco fui convencido pelo enredo. Não são livros ruins – consigo imaginar alguns pontos positivos. Mas o caminho que a autora optou difere muito do que imaginei pela premissa.
O grande problema dessa trilogia, para mim, é que a parte fantástica entra como cenário, e não protagonista. A ideia de feitiços e maldições em um mundo urbano caótico é genial, mas o que a autora trouxe foi uma trama limitada aos problemas do Cassel, um adolescente chato e desinteressado que segue, de forma passiva, o que outras pessoas tramam para ele.
Outro ponto negativo é a similaridade na construção do enredo nos três volumes. Sempre começamos de forma lenta, com a contextualização da vida do protagonista, e então somos apresentados á um problema, que só conseguimos ter clara noção em seu desfecho. E esses desfechos sempre surgem de forma milagrosa pela mente perspicaz do protagonista. No primeiro livro foi interessante, mas a repetição nos outros dois foi desestimulante.
No geral, não foi uma leitura completamente negativa. Me diverti com algumas peculiaridades da narrativa, principalmente por fugir do clichê de livros de romance sobrenatural. Esse é um dos casos que fico em dúvida se recomendo ou não, pois, por mais que a minha experiência tenha sido morna, outras pessoas podem gostar das escolhas da autora.
Escutei Poison Poison, da Reneé Rapp, enquanto escrevia este post.