Leona vê sua vida mudar radicalmente quando cai dentro de um velho espelho. E quando digo radicalmente, você deve acreditar; as preocupações normais de qualquer adolescente dão lugar á instintos e táticas que visam unicamente a sua sobrevivência em um mundo onde nossos piores pesadelos são reais. Em Amantia, lutar contra Vampiros, Lobisomens e Sereias malignas faz parte do dia-a-dia de qualquer habitante - seja ele humano, mago ou elfo. E com o objetivo de voltar para casa viva, nossa protagonista se junta a um elfo negro e começa uma viagem que pode embaralhar completamente sua mente.

Seria clichê começar a resenha falando que a Leona é uma garota comum, mas eu não poderia começar destacando algo mais legítimo que isso. Desinibida, impulsiva e ingênua, ela me fez mudar de opinião tantas vezes durante a leitura que acabei criando um carinho especial. No começo esperei uma protagonista banhada em um dos dois maiores clichês literários da atualidade (exageradamente ingênua/submissa ou insanamente impulsiva/fod#na), mas acabei encontrando uma pessoa onde os erros e acertos se dividem em uma balança saudável e verossímil. Esse foi o primeiro grande motivo que fez minha degustação virar uma leitura completa.

Quando estou entediado, acesso meu Kindle e leio o primeiro capítulo de várias obras nacionais aleatórias. Se encontro algo que me desperta a atenção, salvo para comprar/ler depois e então resenhar aqui no blog. Mas o efeito desse livro em mim foi tão repentino que, quando me dei conta, já estava quase nos 30% da obra - e não queria esperar o "depois" chegar. A narrativa da autora me enlaçou de primeira, servindo de base para o universo complexo e outros atributos me prenderem de vez a leitura. Encontrei tudo o que mais gosto em fantasias (bons personagens, boas descrições e um desenvolvimento que entrega tudo que é necessário ao leitor) e, mesmo com as falhas que notei ao longo do enredo, esse universo me encantou completamente.

Se eu fosse fazer uma lista com todos os tipos de criaturas que encontramos em Amantia, o post ficaria gigantesco. Sereias canibais, Aswangs, Metamorfos, Kappas, Elfos, Silfos, Duendes, Centauros... a autora buscou seres das mais variadas culturas e os fez entrar, com harmonia, em um único enredo. Isso poderia ter acabado com qualquer identidade que o livro viesse a ter? sim, mas felizmente o caso aqui é outro. A mitologia dos doze mundos é tão ampla, complexa, que mesmo conhecendo tantos seres tive a impressão de estar apenas na ponta do iceberg. Oras, são doze mundos e mal conhecemos um! A vontade de saber mais sobre tudo me faz agradecer pelo fato da série ser gigantesca (7 livros, e contando...), pois assim meu anseio fica controlado em um nível quase normal, aceitável. São vários rumos para tomar, possibilidades de exploração... que, se a autora seguir 10% do que imagino, já ficarei fascinado e completamente satisfeito.

Porém, em um universo tão complexo, deslizes já são esperados. Já adianto que nenhum chegou a atrapalhar a minha leitura, mas eles continuam ali, impedindo que o livro atinja seu verdadeiro potencial. Pontas soltas podem ser encontradas, principalmente nos detalhes que parecem irrelevantes mas não são. Desencontros nas informações sobre a hierarquia do reino, ou sobre o modo de vida dos seres, me deixaram confuso e tive certa dificuldade na hora de compreender tudo. Mas, no final, a maioria dos detalhes perdidos foram consertados, e com as explicações tudo fez ainda mais sentido.

Agora, se tem algo que me atrapalha bastante durante as leituras, é quando encontro erros de digitação. Notei alguns em Do Outro Lado do Espelho, e parece que esses deslizes - por menores que sejam - sempre acabam quebrando o ritmo de leitura. Eles te tiram da imersão e as vezes é difícil voltar ao ritmo anterior, quando você estava vidrado no enredo. Se a história não fosse tão interessante, em algum momento eu teria cogitado abandonar a leitura, mas felizmente Leona e seus companheiros me prenderam com uma corda difícil de romper. 

Comentário Geral: Lendo o livro, só pude pensar em quem perde obras tão magnificas por preconceito contra a nossa própria cultura. Emilly Amite se mostrou uma autora flexível, mas objetiva, que não perde em nada para os autores estrangeiros e seus best-sellers. Por sorte do destino, vi que tenho quase todos os livros da saga lançados na Amazon (provenientes das promoções com obras gratuitas por tempo limitado), e estou dando pulinhos pra coloca-los na linha de frente da minha lista de leituras. Já irei comprar os que faltam, e também aproveitar para indicar a obra para qualquer um que aparecer em meu campo de visão. Esse é um livro perigoso, altamente contagioso, que vai enlaçar todos os leitores desprevenidos que resolverem dar uma espiada nas primeiras páginas. Recomendo!