A força da corrupção é menos repugnante do que a corrupção da força.   
     Hoje a resenha foge um pouco do padrão do blog: escreverei sobre O Ato e o Fato, obra de não-ficção do jornalista Carlos Heitor Cony, que reúne artigos publicados sobre o golpe de 1964, na ditadura militar.

NomeO Ato e o Fato
Subtítulo: O som e a fúria do que se viu no golpe de 1964
Autor: Carlos Heitor Cony
Editora: Nova Fronteira (Acervo)
Páginas: 216
Ano: 2018
ISBN: 9788520937631
Nota do blog★★ (2,5/5)
Onde encontrarAmazon / Skoob
Sinopse: Mais do que um documento da nossa história, encontramos nestas páginas o primeiro registro de um brasileiro que teve a coragem e sensibilidade de perceber o que de fato acontecia, quando da instalação de um Regime de Exceção que se prolongou no país por mais de vinte anos (1964-1985).As crônicas, publicadas no jornal Correio da Manhã, por Carlos Heitor Cony, a partir do dia 2 de abril de 1964, propagam um sonoro NÃO à arbitrariedade e à violência vigentes. Figura de resistência, Cony, sem dúvida, ultrapassou o relato, a condição de jornalista, e marcou seu nome como arauto e humanista, numa época “sombria” da nossa história em que muito poucos conseguiram enxergar com clarividência o regresso que o país cometia e a necessidade do brado imediato.
O Ato e o Fato reúne crônicas de Carlos Heitor Cony escritas imediatamente após a instauração do golpe de 1964, que levou à ditadura militar. São artigos publicados no jornal Correio da Manhã, onde Cony comenta, em tom ácido e irônico, o desenrolar político e social desse conturbado período de repressão e perseguição.

É interessante analisar o posicionamento do autor, suas intermitências, a reação da classe jornalística e o papel da própria população no caos social que começava a surgir.

Além disso, também é relevante notar que, mesmo escrito sobre um evento específico na história, toda a tensão política pode ser comparada às eleições de 2018, quando uma cópia vagabunda desses militares conseguiu fisgar a população com promessas vazias e ódio compartilhado, assumindo o posto de presidente da república. Os sintomas desses levantes podem ser observados até hoje, se prestarmos atenção.

A obra em si é uma boa fonte de informação para quem quer entender de relance o comportamento das mídias nessa época de repressão. Por não ser jornalista político, contudo, Cony relata apenas o que lhe atinge diretamente - seja como profissional, autor ou pessoa. Ele próprio comenta, em uma das crônicas, sobre essa não ser sua área de atuação, o que não impediu que os escritos fossem consumidos e espalhados por todo o país, representando todas as almas inquietas sobre os rumos da sociedade brasileira.

Em certos momentos, confesso, a passividade do autor (principalmente relacionada ao Castelo Branco) me irritou profundamente. Em alguns casos, ele só adotou um tom contrário quando as situações atingiam extremos. Me faz pensar na posição do autor hoje, quando esses movimentos retrógrados acontecem, em sua maioria, dentro da subjetividade do brasileiro.

Recomendo por ser uma leitura fácil para quem, assim como eu, nunca pesquisou sobre o assunto. O fato de serem crônicas publicadas durante o conturbado período facilita uma imersão no estado mental de quem o estava vivenciando. Tenho ressalvas, críticas, mas, como documento histórico de fácil acesso e leitura, reconheço seu valor.


★★ (2,5/5)


Escutei The Thrill Is Gone, da Raye, enquanto escrevia o post.

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